terça-feira, 6 de abril de 2010

Diabetes Mellitus no gato

O que é a diabetes mellitus?

A definição de diabetes mellitus é o aumento de glicose (açúcar) no sangue e urina de um gato em jejum devido à falta de insulina.

Como é que o meu gato apanhou diabetes?

A Diabetes mellitus é uma doença com várias causas. Nos gatos está associada com o excesso de peso e é mais frequente em machos castrados. Pode ter na sua origem alterações degenerativas das células beta do pâncreas ou em pancreatites crónicas que levam a uma insuficiente produção de insulina.

Como se desenvolve a doença?

A insulina funciona como uma roldana que permite a entrada da glucose nas células. Não havendo insulina começa a acumular-se glucose no sangue o que se chama hiperglicémia. O animal começa a expelir glucose na urina (glucosuria) aumenta a ingestão de água e a frequência com que urina. Uma vez que as células sem glucose ficam com “fome” pedem ao hipotálamo comida e o gato come ainda mais. O fígado que tem uma reserva de energia para emergências começa a “fabricar” glucose a partir das gorduras e proteínas. Esta reserva só é segura durante breves períodos. Quando se arrasta no tempo começam a formar-se corpos cetónicos que são produtos tóxicos para o animal. O açúcar continua a subir no sangue e o animal começa a perder peso apesar de estar sempre com muita fome.

Como se trata?

Os gatos têm muitas vezes diabetes transitória que pode ser revertida com dieta apropriada e exercício. A toma de drogas hipoglicemiantes e a correcção de doenças concorrentes que possam estar a contribuir para o problema podem também controlar a hiperglicémia. Em situações mais graves como o desenvolvimento de cetoacidose a administração de insulina é imprescindível para controlar o problema.

Porque não se pode dar insulina em comprimidos?

A insulina é uma proteína complexa que é digerida no tracto digestivo, daí a única solução ser administrá-la por injecção.

Será que vou ser capaz de dar injecções todos os dias ao meu gato?

Na maior parte dos gatos a administração por injecção é mais fácil do que pela boca. As injecções de insulina são dadas com uma agulha muito fina e o volume a administrar é pequeno pelo que a maior parte dos animais tolera bem este tratamento. As “canetas” para administração de insulina nos humanos não são eficazes na maior parte dos animais por causa do pêlo e da espessura da pele. Sem administração de insulina a doença pode levar à morte do animal pelo que o esforço da parte do dono é a sua salvação.

Que cuidados devo ter com as injecções?

A insulina deve ser sempre refrigerada para não se alterar. O frasco deve ser removido do frigorífico só antes da administração e por curtos períodos de tempo. Role o fraco entre as duas mãos para homogeneizar a solução. Nunca agite fortemente. Deve sempreo cuidado de evitar contaminar insulina. Espete a agulha e retire a dose indicada. Confirme sempre com o seu veterinário a dose de insulina e nunca faça qualquer alteração sem o seu conselho. Aqueça na sua mão por uns momentos a seringa. Assegure-se que a área em que vai administrar a insulina está limpa. Nunca desinfecte com álcool porque pode inativar a insulina. Faça uma prega de pele com três dedos e espete a agulha sobre a pele. Carregue no êmbolo da seringa. Se estiver na dúvida se o líquido entrou todo NUNCA repita a dose, nem que seja parcialmente. Espere pela próxima administração de insulina.

Como sei se o tratamento está a funcionar?

A forma mais imediata de avaliar a eficácia do tratamento é a diminuição dos sintomas. A quantidade de água que um gato diabético bebe deve ser registada diariamente assim como se fez ou não exercício e o que comeu e quando. A frequência com que troca o areão pode ser um indicador indirecto do consumo de água. Se o seu gato permitir a melhor maneira de determinar a dose de insulina é através de uma curva de glicemia mais ou menos oito dias depois de começar a administração de insulina. Esta curva implica a colheita de sangue de duas em duas horas ao longo de um período de tempo e ajuda a perceber a resposta do animal à administração de insulina. A partir daí a dose de insulina é ajustada e o animal estabilizado. Idealmente depois de encontrada uma dose eficaz o seu gato não precisa mais de curvas de glicemia e só precisará de controlos de fructosamina no sangue e análises de urina de três em três meses para avaliar a eficácia do tratamento. Qualquer dúvida que tenha será esclarecida pelo seu veterinário.

O que é a fructosamina e como pode avaliar os níveis de açúcar no sangue do meu gato?

A fructosamina é formada através da ligação de uma proteína ao açúcar no sangue. Quanto maior a quantidade de açúcar média durante 2 a 3 semanas mais fructosamina se mede no sangue.

Apesar de todos os tratamentos o meu gato não está melhor. Que se passa?

A obesidade e doenças concorrentes como pancreatites crónicas, doenças inflamatórias crónicas infecções e outras doenças endócrinas como hipertiroidismo, hiperadrenocorticismo, acromegália podem levar a resistência à insulina. É importante fazer todos os exames para excluir todas essas doenças e garantir o cumprimento da dieta recomendada.

Que outras complicações podem existir no meu gato diabético?

A formação de cataratas é o mais frequente e uma das mais importantes complicações de longo prazo. Quanto melhor controlado o açúcar no sangue menor probabilidade de haver complicações.

A neuropatia diabética é relativamente frequente no gato e manifesta-se através de fraqueza dos posteriores, dificuldades em saltar e apoio anormal das patas de trás.

A hipertensão sistémica está associada à diabetes mellitus sendo recomendável fazer medições da pressão arterial de rotina e medicação com anti hipertensores se necessário.

Muitos gatos diabéticos vivem vidas longas e felizes desde que tenham um bom controlo dos sintomas e um acompanhamento sólido pelo médico veterinário.


Dra. Margarida Martins

1 comentário:

  1. Boa Tarde
    desde já quero-vos felicitar pelo vossa iniciativa em informar a população acerca dos cuidados a ter com a diabetes no gato.. No entanto, tenho uma duvida. tenho um gato ao qual foi recentemente diagnosticado diabetes. Nos humanos a auto-vigilancia da glicemia capilar é importante para uma melhor monitorização da doença. A minha questão é, não é possível fazer o mesmo ao gato? Como poderei fazer uma pesquisa de glicemia capilar ao gato de modo a controlar a eficácia do tratamento??

    Cumprimentos.

    André Guimarães

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